quarta-feira, 14 de setembro de 2016

A sedução de todos os recursos tecnológicos de agora parece nos tirar da órbita de nossa realidade, deixando-nos entregues à sensação de que tudo é fácil e rápido, prazeroso e eficaz. É lógico também que o que se faz com a tecnologia também não justifica tudo! No entanto, sem dúvida, o uso de tantas engenhocas parece alienar cada vez mais as pessoas, uma vez que gente de todas as idades vai, aos poucos, se alienando, num enamoramento com as máquinas que nos esfria e nos torna alheios aos problemas, àquilo que é essencial, como o diálogo e o fato de notar nossos semelhantes. Pois bem, afogados em banalidades, marchamos por um universo em que nada tem valor, saberes e sensações são descartáveis. Tornamo-nos alheios! Petrificados! Empedernidos! E como educar assim?!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O absurdo das entrelinhas tortas

Com resultados estarrecedores, questionamos para onde foi a leitura de nossos estudantes! Seguindo a maré de banalização de nossos tempos, onde nada, absolutamente, é relevante, as linhas tortas do desconhecimento dos alunos hoje se refletem claramente em "notas" de provas, como as do ENEM, por exemplo. Tortas de tal maneira que nem conseguem traduzir a fragilidade da formação escolar em nosso país, tampouco explicam o fracasso das relações interpessoais que norteiam a construção de conhecimentos, bem como as ações que visam a colocá-los em prática no dia-a-dia. No entanto, o colapso vai além, porque quando se fala em educação, grosso modo, pensa-se apenas em matérias escolares, ficando de lado tudo o que uma pessoa aprende e percebe fora dos muros das escolas, uma vez que tal percepção é fraca e inconsistente. Basta considerarmos alguns fatores. Vejamos a realidade de coisas-prontas e ideias como numa produção em série, assim como o imediatismo dos comportamentos padronizados conforme o que a moda e a mídia ditam, enfim, a lista seria imensa ao analisarmos a liquidez das condutas humanas e das linhas de prioridade de crianças, jovens e adultos. E dizer que o tema A ou o B não são atuais e discutidos pelos meios de comunicação é o subterfúgio mais fácil, que confirma nossa docilidade e conformismo com o prato-feito de notícias que nos são dados. Padrões errôneos à parte, o olhar deve se voltar às questões da leitura e o que se faz com o que se lê. Crianças, jovens e adultos podem hoje mergulhar num mar de textos através da internet. Mas a oferta de materiais de leitura não é sinal de qualidade, nem de bons resultados quanto à percepção de mundo das pessoas. Parece justamente o contrário: quanto mais leem, menos sabem. As entrelinhas tortas revelam o absurdo do despreparo de nosso país, que testa alunos como cobaias, num resultado frustrante que mais parece uma experiência distorcida de modelos de educação mal adaptados a nossa realidade. Triste é saber que a maioria de nossa população crê piamente que isso é normal. 

O desconcerto da falta de contextualização é latente. Embora o mercado editorial seja o maior em toda a história da humanidade, a qualidade da leitura da maioria dos estudantes é bastante questionável. A maioria delas, em nosso país, oscila entre best sellers e autoajuda, fofocas e informações sem relevância, a vida das 'celebridades', notícias sobre futebol, piadas de baixo calão, violência etc. O que os livros didáticos contêm parece não despertar mais o interesse dos alunos. A concorrência é grande! Devemos considerar também o fato de que não temos um grande público leitor - nunca tivemos - nem dentro nem fora das escolas, e não é por que temos uma prova de âmbito nacional que nossa população vai mudar seu perfil, só por que os professores insistem em dizer que ler é algo necessário à vida, ou que interpretar fatos políticos e sociais terá alguma importância na vida de nossos estudantes. Reproduzo aqui o clichê mais agorento de nossas escolas: "Para quê isso vai servir em minha vida?" Nossa população é um resultado de décadas de mídias tendenciosas, de políticas caducas de motivação à leitura, do desinteresse de nossos governantes em tornar nosso país um lugar melhor, mais digno, onde o sonho das crianças não seja nivelado por baixo. Mas também temos culpa nisso, à medida que aceitamos o rótulo que nos foi dado. Nosso papel foi historicamente definido como o de um país onde o pensamento é artigo de luxo. O pensamento consciente, lógico! Devemos ser forças de trabalho, não mentes pensantes. Este último fato, um direito arrancado no instante do parto da consciência e, junto com ela, a visão de mundo. O problema vai além de erros de ortografia, pontuação e dos significados das palavras. Sim! Somos culpados pelas linhas tortas da aceitação!

Há tempos, nossos estudantes estão avulsos à capacidade de ver o mundo e de interpretar a realidade e suas frações problemáticas, tais como questões sociológicas, políticas e culturais. Não sabem, nem se importam em saber de questões locais muitas vezes, o lixo no chão, a parede suja, a violência, o desrespeito; nada nos comove mais. Olhar ao redor com consciência é algo absurdamente difícil para muitos, já condicionados a ver apenas o óbvio. As gerações anteriores, pobres e ricas, cairiam pasmas diante da oferta de livros, revistas, aulas e explicações disponíveis na internet hoje, ao alcance dos dedos, nos bolsos, nos celulares. Infelizmente, as ferramentas digitais parecem servir apenas para manifestações narcisistas e dizeres de curto efeito, servem para manipulação e estagnação mental, nada mais, nada muito profundo, nada de leituras, nem de textos, nem de imagem. O que importa é ler a superficialidade. O luxo da consciência foi trocado pela desesperança que assola nossos jovens e faz deles peças de manobras sociais de grandes proporções. Eles se resignaram, extravasam suas frustrações nas festas, ou na solidão das telas, do brilho do progresso tecnológico, que lhes sopra nos ouvidos a promessa de que o conhecimento está no próximo hiper-texto, ali, no próximo site. E o susto vem depois, quando se deparam com a realidade absurda que afirma, e reafirma, que ainda não estão prontos.

Os resultados estranhos nas provas de redação são disparos pela culatra do prisma do pedantismo dos jovens, e dos adultos também, que "acham" que sabem tudo, que sabem escrever, que leem bem, interpretam bem. No fim das contas, todos caem na armadilha do sistema, que não preza o pensamento, mas que cobra, equivocadamente, de uma população a capacidade de pensar. Nosso sistema educacional é negligenciado, deixado em segundo plano. A prioridade é outra: diversão! Nada mais importa! Afinal, não somos levados a sério! Mas poucos se perguntam se encaram a vida escolar com devida seriedade. A escola se tornou depósito e local de lazer, lutando contra uma série de práticas sociais incontroláveis. Ela precisa mudar! Mas só mudará quando a sociedade também mudar. Escrever um bom texto é traduzir em palavras a visão de mundo, das particularidades e das observações coletivas, trabalho que requer tempo, reflexão, compartilhamento de ideias e análise dos fatos, que não se faz apenas na sala de aula, e sim no corredor, na calçada, em casa, na rua. Não se faz em pouco tempo, pois é um lavouro inerente à maturidade do ser. Cobramos de jovens a capacidade de expressão que é a construção de uma vida, como a edificação de uma casa. Entretanto, tentamos construir a casa a partir do telhado.


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terça-feira, 14 de outubro de 2014

Da verdade e dos clichês: O vivo-pensante

Longe dos clichês e críticas que correm aos montes por aí, muitas verdades precisam ser ditas acerca de quem educa, porque muito mais que a mercantilização de 'conhecimentos' vagos e despropositados, ensinar-educar está além dos conteúdos outrora trancafiados nos livros, posto que a velocidade dos dados supera nossas mentes, desafia a sanidade e ultraja quem se propõe a concorrer com ela.

Digo, pois, concorrer com computadores e celulares e outras coisas inimagináveis na minha alfabetização é realmente desleal. Enquanto a sala de aula resiste, carteiras, quadro, giz, silêncio, o mundo além-escola é uma sedução pura, é malicioso, é sutil. Mas é o perigo com roupa de tecnologia. E a tecnologia é sempre perigosa, por mais que não pareça. Portanto, concorrer com esse mercado-de-peixes-perigosos é uma tarefa árdua. Mas voltemos ao que interessa, ao educador.

As verdades sobre educar, por assim falar, não são poucas, e os educadores, muito mais. Eles são muito mais que notas, muito mais que conceitos e teorias. Os educadores são aquilo que nenhuma máquina consegue ser. Eles sentem mais, se incomodam mais e a insatisfação é tanta que não param, e a batalha é travada a cada dia, para provar aos estudantes que há, sim, saídas para nossa realidade. Mesmo que estejamos perdidos em meio ao sistema, vamos insistir em ideias que destoem, mas que façam sentido com o dia-a-dia dos nossos estudantes. Foi o tempo em que a escola era um reduto da aritmética seca, sem gosto, e das ciências avessas e presas aos laboratórios. Educar só faz sentido se o comportamento que propomos for capaz de transformar nossas vidas para melhor. É pensar possibilidades para o lixo, para a bagunça, para ajudar nossos iguais.

E vejo que os educadores ainda têm muito a ensinar. Enquanto as máquinas e dispositivos parecem os grandes deuses da realidade da educação, aos meus olhos, são apenas ferramenta. Quem educa, ao contrário, é vivo, tem sangue quente, não é um algorítimo com um caminho pré-determinado, tampouco se encerra nos cinquenta minutos de aula. E em meio a verdades e clichês dos educadores, passaríamos décadas e séculos a falar. Mas nada comporta a gratidão!

E por falar em gratidão, hoje, andando pela rua, passei pela minha primeira professora, não parei, não consegui ser espontâneo o suficiente para agradecê-la, pelos incentivos e pelas broncas. Mas acredito que o giz, os livros e as palavras me transformaram, no entanto, sobretudo, os professores. Eles me provaram que máquina alguma supera o feeling de quem quer mudar a realidade, pois nosso intelecto não nos permite ser menos que isso.    

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Vida longa à arte

A arte é o casulo libertador das tensões humanas, o grito de incômodo. A ideia de desajuste dos artistas é tão normal quando o desconforto daqueles que não vêm na arte um filtro para as tristezas cotidianas, tampouco um meio de amplificar as alegrias, tão breves em nossos tempos. Casulo porque o ato criativo é um parto, um salto do belo para os olhos de quem vê, aos ouvidos, ao tato... quando o artista convida o interlocutor a se enveredar pelo universo da Obra, as asas da percepção inflam e fazem o pensamento ir além das expectativas. Só a arte faz isso! É um caminho sem volta, no bom sentido do verbete. 
Os incomodados mudam o mundo, criam possibilidades quando não há nada mais. A apreciação do belo deveria ser um desejo comum, porque assim todos buscariam as sensações positivas das obras de arte para renovar energias e seguir em frente. Infelizmente, os casulos são poucos. À medida que as rotinas avançam, o tempo se encurta, devora-nos feito uma esfinge, os dias ficam menores, espremidos entre tarefas. Não sabemos decifrá-los. A arte ficou esquecida, perdia entre a esquina da frieza e a avenida da massificação, limitada às tendências superficiais de nossos tempos. O casulo da arte fez o caminho de volta.
A liberdade de expressão se limita aos lapsos criativos forçados, e a produção em série, inclusive a dos movimentos artísticos, faz tudo parecer fácil, banal, nenhum esforço tem valor, nenhuma arte é longa o suficiente para preencher a vida, que já está no limite da estagnação. Nossa realidade superou a ideia de espanto proposta pelos artista modernos e fez das coisas grotescas o espetáculo principal, brindando o não-entendimento e a cegueira coletiva. Não há mergulho profundo que se dedique a entender uma letra de música, uma harmonia, um pintura, os gestos de um ator numa peça ou  a plasticidade e a fotografia de um filme. Vivamos o óbvio! Mas chagará um tempo em que nossos filhos e os filhos dos filhos redescobrirão este prazer, farão as pazes com o belo.

domingo, 3 de agosto de 2014

O gesso da facilidade

A dificuldade do fácil está na estagnação. O desafio de se conviver com o que facilita a vida é justamente sair da caverna da comodidade, do feriado do ócio. É não tolerar o cômodo. Os estágios da tecnologia fizeram com que as ferramentas que nos levavam às informações dessem passos largos... rumo ao infinito. Tudo está ali, logo ali, no quintal da web. Mas naufragamos no mar de rosas dos clichês, dos resumos, da notícia fácil e gratuita, do conteúdo fácil e duvidoso, sem dono, sem documento. A travessia se tornou lenta, perigosa. Antes, se quiséssemos um livro, tínhamos que comprá-lo, por um valor alto, sem direito a resumos e resenhas. Era o livro, apenas o livro. E o mesmo acontecia com as revistas, que se multiplicaram feito ervas daninhas, amplificando as vozes mais improváveis e as opiniões mais insólitas, seja na política, na cultura, nas artes. A informação há aos milhões, além de nossas percepções, como disse Augusto Marzagão tempos atrás, não muito longe. Quando nos demos conta, fomos atropelados pela velocidade da máquina, que nos engole a cada minuto. O conteúdo feito pelas várias cabeças pensantes (ou não) do globo supera exponencialmente nossa capacidade de absorção de conteúdos. E o aprendizado é vítima nesse naufrágio de comodidades.
E assim vamos abrindo mão do Pensar, de cogitar possibilidades. A criatividade foi à enfermaria dos recursos tecnológicos e saiu de lá engessada, amordaçada e anestesiada pelas maravilhas brilhantes das máquinas. E quem não sentiu o gosto da lentidão necessária ao aprendizado não se encontra na reflexão do livro, no turbilhão moroso da criação e da crítica ao que nos cerca. Estaríamos passivos? A facilidade dificultou aprender mais e melhor. Assistimos a tudo por partes, aprendemos pela metade, na política da fragmentação, os livros se resumem aos resumos, sem a essência do experimentalismo das páginas, das palavras estranhas, sem o folhear dos dicionários em busca das soluções - ou das dúvidas. Não há tantas reflexões como antes, há contentamento contente, sorridente, feliz pelo tudo-pronto. As opiniões saem em linhas de montagem, ora muito brandas, mornas, ora radicais aos extremos mais amedrontadores. Aprender ficou difícil, muito mais que outrora. A felicidade virou consumo forçado e a educação, sub-produto. Está no ar o cercamento do ser.
O pensamento igual, pré-moldado, virou moda, como calça rasgada ou All Star, disponível em qualquer esquina. A educação divide espaço com o banal e se banaliza, na intolerância da brutalidade de tudo que é pós-moderno. As preocupações reais das pessoas passam pelo campo do consumo, do ostentar. Inteligência virou coisa démodé, como "amar ao próximo". Tempos atrás, as crianças se sentiam bem ao fazer uma descoberta num livro ou numa revista, criavam mundos que só existiam em suas mentes e isso movia sonhos durante anos. A tecnologia, hoje, quebra todas as expectativas, e ficamos esperando quando será o próximo avanço para tentar mensurar o quão atrasados estamos. Exemplos? Logo ali... Tantos por aí manejam máquinas, entendem seus pormenores, mas são incapazes de demonstrar seus próprios sentimentos, contrariam a regra da harmonia, casam beleza com brutalidade e inteligência com a falta de escrúpulos. A educação passa pelo processo de sensibilização humana, torna-nos mais curiosos, mais vivos, preocupados com a essência, livres, em parte, da substância. Tomara que o período de hibernação da criatividade e da criticidade das pessoas não dure muito; caso contrário, vamos virar estátuas, inertes e frias, ou armários de aço, ou peças obsoletas, superadas pela própria ansiedade.

terça-feira, 3 de junho de 2014

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/

Palavra-ermitão

O livro anda meio esquecido? Ou somos nós que mudamos de olhar? Olhar a página passou a ser uma tarefa onerosa, um luxo estranho, um domingo nublado esperando a segunda para limpá-lo. As gerações de hoje convivem com este abismo de contradições. A informação é gratuita, a paciência custa barras de ouro. 
E as gerações que tanto leem? O que foi feito delas? O luxo das estranhezas da leitura parece se afastar à medida que a tecnologia devora nosso tempo sem a mínima piedade. Sim. Somos devorados pelos dispositivos móveis; e nos tornamos imóveis, estátuas de cera a aguardar o calor da leitura para novas viagens, para possibilidades além das telas. Porém há muito mais a ser visto nesse turbilhão de informações desencontradas e pensamentos pela metade.
Eis que na barriga do monstro-da-falta-de-tempo nos deparamos com o fantasma da leitura, esquecido, empoeirado, cheio de teias de aranha. Ele ainda é visitado por muitos, empoeirados também, mas pela poeira do querer-mais. Claro. A criança, que ainda insiste na luta, visita a leitura em seus momentos de descontração, quando o interessante parece ser apenas o pensamento-feito. A criança ainda é capaz de ler, de imaginar, de sonhar com as possibilidades das palavras, não das telas. A luz da tela é artifício. Um artifício a ser aproveitado, para que a criança não pare de sonhar. Pense no espanto do homem de outrora quando lhe disseram que o livro não seria mais a pedra com letras entalhadas, mas sim um pedaço de couro, uma fibra repleta de letras. Certamente, o homem enxergou a caravana das palavras como uma migração estranha e sem sentido... as palavras gravadas na pedra durariam eternidades. No entanto, o livro desencarnou e baixou no primeiro papiro que lhe veio à frente. O download das palavras da pedra para o papiro deve ter sido traumático, a desconfiança talvez consumiu escribas e os mais céticos. As palavras não sobreviveriam ao tempo e à fragilidade da nova casa-papiro, pensaram os mais temerosos.
As palavras insistem. E veio o papel, a ocupar pilhas e pilhas em nossas vidas e repartições. As palavras outra vez, partidas. E nesse pêndulo, a inquietude dos vocábulos parece não ter fim. Dessa maneira, o livro trocou de corpo, mais uma vez, para provar sua fluidez. Quanto espanto. Os olhos daqueles que negam a tecnologia parecem não acreditar no livro-pdf, no livro-blog, no livro-mutante, abstrato, na leveza de Calvino. E hoje as palavras caminham pelos vales ermos dos arquivos digitais, esgueirando-se entre fotos e aplicativos, nas florestas frias dos computadores e dos celulares. O que as torna vivas, como antes, é o apelo da criança para que alguém leia o livro-mudo que se rende ao clamor das letras, ferozes, vorazes, prontas para encher nossos corações e derreter as estátuas de cera que nos tornamos. 
A gratuidade da informação divide espaço com a sensação de que o conhecimento está ali, quieto, esperando o comando para atacar e mudar nossa realidade. Mas ele não rasteja até nós, conhecimento é lavoura, é suor, é conteúdo saindo do casulo, do casulo-livro, da mutação das estranhezas e das sutilezas das palavras. E por falar nelas, palavra dada não é palavra limada. O livro apenas trocou de corpo, sua força transformadora ainda vaga por aí, livre do peso das tábuas de pedra, de barro, da poeira do papel-da-idade-da-pedra-do-papiro.E se o livro mudou, nós precisamos mudar.   

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Educart: Do sabor da sutileza à perda do gosto

Educart: Do sabor da sutileza à perda do gosto:    A existência só se faz com essência. A substância talvez seja detalhe. E o detalhe da essência está na sutileza, e não há espaço para as...

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Educart: Do sabor da sutileza à perda do gosto

Educart: Do sabor da sutileza à perda do gosto: Não acredito num futuro em que a educação seja coisa do passado, em que livros sejam peças de museu e professores termos acessórios do sist...

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Do sabor da sutileza à perda do gosto

   A existência só se faz com essência. A substância talvez seja detalhe. E o detalhe da essência está na sutileza, e não há espaço para as brutalidades num mundo de tantas sutilezas. Trágico, e não raro, é admitir que o toque sutil da educação se tornou artigo raro entre as pessoas. Não acredito num futuro em que a educação seja coisa do passado, em que livros sejam peças de museu e professores termos acessórios do sistema, peças de uma engrenagem, tempos em que temores - e tremores - batem à porta. É a negação da coexistência das tecnologias tradicionais, o livro, o professor, e das atuais, modernas, inovadoras, facilitadoras. Estamos livres para o ócio.
   Contudo, temo por transições abruptas, violentas, com valores retomados de modo enérgico para transformações que urgem há tempos. As máquinas não são nada sem seres inteligentes para domá-las. Nosso país se tornou um picadeiro de horrores. Uma vitrine de corpos à mostra, como se não tivéssemos mais nada a oferecer, ao passo que a educação foi esquecida para dar lugar aos comandos dos joysticks, aos movimentos repetidos e às ações mentais repetidas, um clic, um ícone, curtir, compartilhar, caminhando para abismos cada vez mais impossíveis. Não pensar é o deleite das banalidades. Anestesiamos as crianças com a tecnologia e cortamos suas asas, o repetir dos toques esconde, atrás da sutileza do écran, a barbaridade das mentes limitas e acomodadas com tanto ao mesmo tempo. É preciso ter cuidado para não se encher de Nada.    
   O temor, lógico, é justificável diante de tantas atrocidades que vemos nossos iguais praticarem, tantas banalidades, barbaridades. A educação é o elemento transformador da consciência humana, o que nos faz ponderar, refletir, porém a realidade, embora falem por aí que nossos números avançam, não é bem isso. Assistimos à tragédia anunciada em que a cultura se dilui em sons monossilábicos e toques eletrônicos, em que as expressões não passam de desenhos rabiscados em paredes das escolas, num campo onde quase nada tem valor. Aliás, de valia maior são os objetos amados, as telas cintilantes que substituem os cérebros, a partir do momento em que as gerações transferem às máquinas a capacidade - ou o dever - de pensar. Para quê? Para mais tempo de ócio! Diversões que alienam, anestesiam, divertem, destroem e deseducam como nunca antes. Perdemos o sabor, o viço. Somos domados pelas máquinas, com direito às rédeas do conformismo.
   O tom enérgico com que os valores são impostos vem normalmente atrelado às consequências danosas que, aos poucos, fomos aprendendo a admirar. Boas músicas são tratadas com tom de deboche, a TV celebra, por vezes, a idiotice, as atitudes se nivelam por baixo pois o caráter também procede assim. Negligenciamos as barbaridades e colocamos em nossa  vitrine máquinas inteligentes ao invés de pessoas inteligentes. A perdição está em deixar de pensar, um ato tão sutil, cujo valor de transformação foi esquecido. Somos livres para (não) pensar!
   Talvez por que ainda não tenhamos conhecido a liberdade, encantados com nosso escravismo invisível, ou mesmo por que ainda talvez não conhecemos a verdadeira educação, que ultrapassa os conteúdos escolares. Educar é sentir. Educar-se é sentir-se, em totalidade. Só conseguimos entender a dimensão dos outros quando entendemos a nossa e a educação é o átrio para um outro circo, de entendimento, lúcido, cuidadoso, diferente deste de agora. Ao contrário das banalidades da massificação, que sempre nos quer mais estúpidos, a educação nos faz existir de fato.