quarta-feira, 31 de julho de 2013

Sobre o direto de ter deveres

Devemos valorizar o que cada aluno nos pode oferecer. Seus saberes devem ser lapidados. E o primeiro a entender a essência disso é o próprio aluno. No entanto, não devemos nos furtar às responsabilidades, boa parte da preparação social do aluno não provém da escola, ele traz de seu contexto social. Portanto, será um esforço em vão delegar apenas às escolas o dever de transformar nossas crianças em pessoas melhores. Precisamos abraçar nossos deveres e partilhar seus resultados positivos, se quisermos um mundo melhor, com cidadãos humanamente transformados, para que educação não seja um conceito lacônico e obsoleto, e a escola não seja uma entidade falida.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Que o futuro não seja esse.



Recogitar pensamentos

Recogitar


Todo ato educativo deve ter, em seu íntimo, um caráter libertador. Muitos consideram que a tecnologia existente supera os limites de capacidade de percepção humana, levantando uma crença em uníssono de que os recursos tecnológicos são facilitadores perigosos, que cerceiam o pensamento e nos privam do desenvolvimento criativo.

Ora, o problema talvez esteja no uso. Se educar é libertar, devemos investir na criatividade muito antes da tecnologia. É estranho imaginar, hoje, um indivíduo pensante que não use um computador ou qualquer outra engenhoca desde sua alfabetização. Mas o ato criativo vem antes disso. A criatividade é um processo de auto-descoberta, que se revela aos poucos, na interação entre os indivíduos com o mundo. Privá-los disso seria reproduzir sombras nas cavernas. Ou seriam sobras?

O que há de controverso? Nossas habilidades se manifestam à medida que recebemos estímulos. E não será possível o estímulo com crianças prostradas, integralmente, diante de computadores, tampouco manejando gadgets, à beira do esgotamento mental, onde o corpo responde apenas a comandos programados. O problema está no uso descontrolado das tecnologias. E há algo pior e mais perigoso aí. Atualmente, muitos vêm no virtual uma forma de escapismo, um mundo imaginário onde somos onipotentes. A liberdade através da educação vai de encontro a esse contexto de onipotência. Educar-se é, sobretudo, reconhecer limites. 

Fora isso, muito mais nos é acrescentado, clareza de pensamento, sensibilidade... A tecnologia sem propósitos nos torna tão frios quanto as máquinas que manipulamos. Portanto, é preciso viver, ler das manchetes de jornais às palavras soltas nos lábios das crianças, sentir o vento tocar nosso rosto, pisar no chão e perceber a aspereza das pedras, o toque sutil da água. Podemos nos maravilhar com fotos belíssimas compartilhadas nas redes sociais, mas este frenesi nem se compara à contemplação de uma paisagem, aos sons, aos gostos, aos toques de luz. A tecnologia deve nos servir de ferramenta, não substituir-nos.

O perigo das facilitações é a propagação do mecanicismo das relações - que já dura décadas. É um brinde à frieza, à perda dos valores. A velocidade das informações não é sinônimo de instrução, muito menos de aculturação. O dicionário eletrônico ganha valor quando já passamos pelas páginas de papel, pelas palavras perdidas, encontradas casualmente quando fazemos uma consulta. O volume monstruoso de e-books é um convite à desinformação, ao passo que educar-se é a porta para o aprofundamento, não para a superficialidade das coisas.

Enfim, não podemos nos render à perversão de um sistema que deseja pessoas embrutecidas pelas circunstâncias, engolidas pela falta de tempo e por milhões de afazeres. Vamos deixar as crianças provar o gosto das imagens reais, para depois admirar os posts. Antes da ostentação de milhares de livros trancafiados num chip, o melhor é ter a consciência tranquila de que podemos enfrentar todas as palavras contidas neles. E que estas nos sirvam de instrumentos de transformação da realidade, por um mundo mais livre, em que o intelecto se valha de ferramentas, mas que não se curve diante delas.

Por Giovani Ramos