quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Tempus edax rerum

Quando questionamos a fugacidade das ideias, é estranho pensar que a mentalidade pode se alterar com tanta rapidez, dada a lentidão de nossas práticas sociais. Nosso conceito de civilização anda tão deturpado que muitos andam perdendo a razão. Em tempos de protestos pelas ruas, agressões a professores etc., a educação é posta à prova, uma vez que seu valor para a sociedade tem sido cada vez mais degradado. No passado, educadores eram admirados, vistos como verdadeiros formadores de opinião. 
Eis que os tempos mudam, tal qual as vontades, a sociedade se nivela através de outros valores e não mais vê nos professores a mesma imagem de outrora, embora ainda haja nichos de valorização do ato de educar. Agora, negamos, e renegamos, de tudo um pouco, extasiados com a luzes causticantes das telas, da tecnologia, do não-ser. Enfim, são passos dados ao abismo. É a caverna cada vez mais próxima, pois o tempo devorou a civilidade dos brasileiros e, no mesmo banquete, a educação.
Abismo, pois é difícil enxergar com lucidez o fim desta novela, que parece mais um drama mexicano, com protagonistas frágeis ante aos falsos heróis que tanto seduzem as gerações de hoje. Vivemos no país da negação, como num culto de barbaridades e futilidades, tão comuns em nossos tempos, onde professores, trôpegos, recolhem o que sobrou da antiga imagem da educação, em meio aos destroços da falta de zelo do poder público e do desinteresse de uma sociedade vaidosa, preocupada demais com ela mesma para pensar no bem comum. Talvez o mal esteja em nós. O mal irremediável da ignorância, do inconsciente coletivo, na fluidez dos valores morais e éticos, ou na ausência total destes.
O que nos resta então? Assumir a legitimidade do colapso? Negar educação é negar a razão, o bom senso e a civilidade. Sem educação, voltamos à condição de outros animais, pois negamos o intelecto como chave de resolução de nossos males, sobretudo nossa imbecilidade. Quem nega um educador, nega o ato de educar. Depois disso, é só voltar para a caverna. Transferimos aos recursos tecnológicos a responsabilidade de pensar e abdicamos ao direito de cogitar nossas próprias atitudes, na falsa ilusão de que aprender diante de um computador é um dom entregue a todos no momento do parto. Só falta lucidez e bom senso para assumir nosso caos. A liquidez dos valores, por vezes, não é tão boa o quanto parece. Onde está a educação?! Nas entranhas do tempo, talvez.
Celebramos então o paradoxo contemporâneo, que contrasta as sutilezas da informação democratizada com negação do intelecto de muitos; é como se a inteligência das pessoas não importasse mais. Assistimos à brutalidade de nossos semelhantes num circo de horrores que os brasileiros aprenderam a admirar. Com isso, professores parecem ir num tipo de marcha cega, sem simpatizantes da causa, exigir dignidade e respeito de um Estado e de um povo que já não se reconhecem mais no contexto das coisas dignas e respeitosas. Assim, enquanto educadores vão de encontro com a polícia nas ruas, a mídia cumpre o papel que tempos atrás era deles. Talvez haja no futuro alguma geração que redescubra o prazer advindo da sabedoria, o êxtase das descobertas e a satisfação de partilhar frutos dos esforços coletivos.