segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Do sabor da sutileza à perda do gosto

   A existência só se faz com essência. A substância talvez seja detalhe. E o detalhe da essência está na sutileza, e não há espaço para as brutalidades num mundo de tantas sutilezas. Trágico, e não raro, é admitir que o toque sutil da educação se tornou artigo raro entre as pessoas. Não acredito num futuro em que a educação seja coisa do passado, em que livros sejam peças de museu e professores termos acessórios do sistema, peças de uma engrenagem, tempos em que temores - e tremores - batem à porta. É a negação da coexistência das tecnologias tradicionais, o livro, o professor, e das atuais, modernas, inovadoras, facilitadoras. Estamos livres para o ócio.
   Contudo, temo por transições abruptas, violentas, com valores retomados de modo enérgico para transformações que urgem há tempos. As máquinas não são nada sem seres inteligentes para domá-las. Nosso país se tornou um picadeiro de horrores. Uma vitrine de corpos à mostra, como se não tivéssemos mais nada a oferecer, ao passo que a educação foi esquecida para dar lugar aos comandos dos joysticks, aos movimentos repetidos e às ações mentais repetidas, um clic, um ícone, curtir, compartilhar, caminhando para abismos cada vez mais impossíveis. Não pensar é o deleite das banalidades. Anestesiamos as crianças com a tecnologia e cortamos suas asas, o repetir dos toques esconde, atrás da sutileza do écran, a barbaridade das mentes limitas e acomodadas com tanto ao mesmo tempo. É preciso ter cuidado para não se encher de Nada.    
   O temor, lógico, é justificável diante de tantas atrocidades que vemos nossos iguais praticarem, tantas banalidades, barbaridades. A educação é o elemento transformador da consciência humana, o que nos faz ponderar, refletir, porém a realidade, embora falem por aí que nossos números avançam, não é bem isso. Assistimos à tragédia anunciada em que a cultura se dilui em sons monossilábicos e toques eletrônicos, em que as expressões não passam de desenhos rabiscados em paredes das escolas, num campo onde quase nada tem valor. Aliás, de valia maior são os objetos amados, as telas cintilantes que substituem os cérebros, a partir do momento em que as gerações transferem às máquinas a capacidade - ou o dever - de pensar. Para quê? Para mais tempo de ócio! Diversões que alienam, anestesiam, divertem, destroem e deseducam como nunca antes. Perdemos o sabor, o viço. Somos domados pelas máquinas, com direito às rédeas do conformismo.
   O tom enérgico com que os valores são impostos vem normalmente atrelado às consequências danosas que, aos poucos, fomos aprendendo a admirar. Boas músicas são tratadas com tom de deboche, a TV celebra, por vezes, a idiotice, as atitudes se nivelam por baixo pois o caráter também procede assim. Negligenciamos as barbaridades e colocamos em nossa  vitrine máquinas inteligentes ao invés de pessoas inteligentes. A perdição está em deixar de pensar, um ato tão sutil, cujo valor de transformação foi esquecido. Somos livres para (não) pensar!
   Talvez por que ainda não tenhamos conhecido a liberdade, encantados com nosso escravismo invisível, ou mesmo por que ainda talvez não conhecemos a verdadeira educação, que ultrapassa os conteúdos escolares. Educar é sentir. Educar-se é sentir-se, em totalidade. Só conseguimos entender a dimensão dos outros quando entendemos a nossa e a educação é o átrio para um outro circo, de entendimento, lúcido, cuidadoso, diferente deste de agora. Ao contrário das banalidades da massificação, que sempre nos quer mais estúpidos, a educação nos faz existir de fato. 


2 comentários:

Denise Ferreira... disse...

Que texto brilhante! Como é triste a educação bancária associada a cultura de massa, essa associação aprisiona o lado pensante das pessoas transformando povo em massa, tirando a forma e anulando a personalidade!

Unknown disse...

Teríamos que mudar o topo da pirâmide,ou seja, o sistema de aprovação nas universidades,para que assim possamos mudar a escola e realmente educar os alunos e bom seria se fosse aberta uma escola para reeducar os pais....rsrsr.... para serem menos crianças (no sentido negativo) do que os próprios filhos!
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