terça-feira, 20 de agosto de 2013

Por que fugir da ilha

Não pode haver outra educação senão aquela que priorize a cultura como arma de transformação social e a arte como dispositivo sensorial de sensibilização dos indivíduos, posto que todos os recursos pedagógicos devem se valer de suas potencialidades para produzir conhecimento, do papel ao computador. Contudo, devemos dar as costas a tudo aquilo que tente nos domesticar, podar-nos o pensamento, já que uma vez impregnados de um universo cultural amplo jamais voltaremos à condição de inércia social e aceitação das circunstâncias. Devemos usar a arte para a resolução das causas "impossíveis" da sociedade, como a cura para a cegueira das sensações, que impede-nos de ver nos outros as mesmas possibilidades nossas, e vice-versa. O teor artístico torna-nos mais humanos, tira-nos da ilha-de-nós-mesmos, denuncia os dramas alheios e convida-nos a agir, pensar e agir emocionalmente, não numa emoção desmedida ou descomprometida, mas na ânsia do entendimento de que o deleite do bem-estar é uma dádiva universal, que infelizmente a muitos ainda é negada. Apreciar o belo, não contentar-se com pouco, com migalhas, entender o belo e compreender que não se constrói, em  canto algum, uma felicidade fracionada. A educação transformadora é aquela que muda-nos a alma, o milagre interno da melhora de nós mesmos, a ponto de chegarmos na incômoda condição de querermos isso também aos nossos iguais. Para tal, as ferramentas que por vezes nos servem para a alienação, fundamentada em desejos tacanhos, devem ser convertidas em artifícios de denúncia de discrepâncias e compartilhamento de bens imateriais, nos quais a cultura está intrínseca. Educação não pode ser deturpada e fazer de cada aluno um mero número. O aluno sente, respira, transpira emoções e vontades. Afinal, a razão de todo ser sempre se volta à transformação, longe da frieza das diretrizes, o aluno é um ser pensante e, em seu íntimo, sempre estará ávido por uma cultura que possa transformá-lo e uma arte que o faça ver além das possibilidades.  

Por Giovani Ramos