quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O ser-tão das possibilidades, do avesso ao verso


Definir o íntimo humano é tarefa árdua, não se faz de noite p'ro dia, porque o ser se desdobra em fala, em silêncio, em discurso, em ato breve, falho, acertado, tudo assim, feito um grande sertão; e isso noz faz lembrar uma obra que tem quase vida própria, que se apossa do impossível imaginário para criar um universo ímpar e uníssono. Vamos pelas vidas de poeira, corpos de baile, balas, disparos, couro, a descortinar a significância das coisas.

Vidas próprias, ou quase... na multiplicação de imagens que não se encerra no papel. Grande Sertão: A reinvenção da língua, do ser, um parto da linguagem do ser, marco. Tal obra é a re-significação das verdades de um sertão para além dos sertanejos, que penetra nas almas, desvenda as ânsias humanas, uniformiza-as, nivela todos à condição do simplório, do ódio, do amor, dos desejos às vésperas do ato, um redemoinho a consumir-nos as palavras e multiplicá-las no vão das possibilidades tangíveis.

Guimarães Rosa traçou assim uma teia, uma construção de contemplação morosa acerca dos diálogos e monólogos que permeiam os discursos dos personagens e se projetam em nós, levando-nos ao (des) entendimento, à substância inefável que não se sabe o ponto de encerramento, um diabo a nos dividir, com dúvidas e certezas que levamos até a sepultura. E nem sabemos a quem encomendar as almas. Desta forma, a obra se encerra e não se encerra. Grande Sertão: Veredas é um sino num lugarejo, perdido no sertão, em nós, a ecoar em nossas cabeças o cântico da índole humana, a nos lembrar sempre de que fazemos parte do meio, de que estamos atados à terra, tão viscerais quanto as criaturas não pensantes, provando que somos água e tijolo, na lama das circunstâncias. 

Por Giovani Ramos

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