Quando
questionamos a fugacidade das ideias, é estranho pensar que a mentalidade pode
se alterar com tanta rapidez, dada a lentidão de nossas práticas sociais. Nosso
conceito de civilização anda tão deturpado que muitos andam perdendo a razão.
Em tempos de protestos pelas ruas, agressões a professores etc., a educação é
posta à prova, uma vez que seu valor para a sociedade tem sido cada vez mais
degradado. No passado, educadores eram admirados, vistos como verdadeiros
formadores de opinião.
Eis que
os tempos mudam, tal qual as vontades, a sociedade se nivela através de outros
valores e não mais vê nos professores a mesma imagem de outrora, embora ainda
haja nichos de valorização do ato de educar. Agora, negamos, e renegamos, de
tudo um pouco, extasiados com a luzes causticantes das telas, da tecnologia, do
não-ser. Enfim, são passos dados ao abismo. É a caverna cada vez mais próxima,
pois o tempo devorou a civilidade dos brasileiros e, no mesmo banquete, a
educação.
Abismo,
pois é difícil enxergar com lucidez o fim desta novela, que parece mais um
drama mexicano, com protagonistas frágeis ante aos falsos heróis que tanto
seduzem as gerações de hoje. Vivemos no país da negação, como num culto de
barbaridades e futilidades, tão comuns em nossos tempos, onde professores,
trôpegos, recolhem o que sobrou da antiga imagem da educação, em meio aos
destroços da falta de zelo do poder público e do desinteresse de uma sociedade
vaidosa, preocupada demais com ela mesma para pensar no bem comum. Talvez o mal
esteja em nós. O mal irremediável da ignorância, do inconsciente coletivo, na
fluidez dos valores morais e éticos, ou na ausência total destes.
O que nos resta então? Assumir a legitimidade do colapso?
Negar educação é negar a razão, o bom senso e a civilidade. Sem educação,
voltamos à condição de outros animais, pois negamos o intelecto como chave de
resolução de nossos males, sobretudo nossa imbecilidade. Quem nega um educador,
nega o ato de educar. Depois disso, é só voltar para a caverna. Transferimos
aos recursos tecnológicos a responsabilidade de pensar e abdicamos ao direito
de cogitar nossas próprias atitudes, na falsa ilusão de que aprender diante de
um computador é um dom entregue a todos no momento do parto. Só falta lucidez e
bom senso para assumir nosso caos. A liquidez dos valores, por vezes, não é tão
boa o quanto parece. Onde está a educação?! Nas entranhas do tempo, talvez.
Celebramos então o paradoxo contemporâneo, que contrasta as
sutilezas da informação democratizada com negação do intelecto de muitos; é
como se a inteligência das pessoas não importasse mais. Assistimos à
brutalidade de nossos semelhantes num circo de horrores que os brasileiros
aprenderam a admirar. Com isso, professores parecem ir num tipo de marcha cega,
sem simpatizantes da causa, exigir dignidade e respeito de um Estado e de um
povo que já não se reconhecem mais no contexto das coisas dignas e respeitosas.
Assim, enquanto educadores vão de encontro com a polícia nas ruas, a mídia
cumpre o papel que tempos atrás era deles. Talvez haja no futuro alguma geração
que redescubra o prazer advindo da sabedoria, o êxtase das descobertas e a
satisfação de partilhar frutos dos esforços coletivos.